Não há coisa mais frequente que encontrar poderosos que se têm na conta de sábios, muito embora nada saibam e ignorem, até, as verdades mais necessárias. Nascidos no meio da riqueza, e de nada sentindo falta, não suspeitam de que algo lhes possa faltar. Assim falava eu, um dia, a um dos mais considerados dentre tais poderosos: Estás ao lado do príncipe, possuis grandes haveres e amigos poderosos; com o teu prestígio podes servir aos teus amigos e destruir os que te invejam. Que me falta, então?, retrucou-me ele. Tudo o que há de mais importante e necessário à verdadeira felicidade: até aqui fizeste o contrário do que te convém, e te descuidaste do que realmente importa. Não sabes o que são os deuses, não sabes qual é a natureza do bem e do mal e, o que mais te há de surpreender, a ti próprio não conheces. Ah, foges e te encolerizas pelo que te manifesto? Que mal te fiz? Limitei-me apenas a apresentar-te o espelho em que viste a tua própria imagem.