Mas é só isso a senhora de Guermantes?!, dizia a cara atenta e espantada com que eu contemplava aquela imagem que naturalmente não tinha relação alguma com as outras que me haviam aparecido em sonhos sob o mesmo nome de senhora de Guermantes, pois essa não fora arbitrariamente formada por mim como as primeiras, mas me saltara aos olhos pela primeira vez apenas um momento antes, na igreja; não era da mesma natureza, não era colorível à vontade como as que se deixavam impregnar tinta alaranjada de uma sílaba, mas era tão real que tudo, até aquela espinhazinha que se inflamava na asa do nariz, certificava sua sujeição às leis da vida, como, em uma apoteose de teatro, uma ruga do vestido de fada, um tremor de seu dedo mínimo, denunciavam a presença material de uma atriz viva ali onde achávamos incertos se não teríamos ante os olhos uma simples projeção luminosa.
marcel proust
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