E por falar em morte, que sombrios problemas, só por si, não encerra esse tremendo fantasma do nada? Para a realidade o que se pode conceber de mais alto é a vida. Mas para a vida o fim necessário é a morte. Como explicar uma coisa em face da outra? Como explicar a morte em face da realidade, quando nesta domina o princípio de que nada se extingue, nada se acaba? É o mistério dos mistérios. A morte é a cessação da consciência, o que significa a cessação de toda a sensação, de todo o afeto, de toda a emoção, de toda a esperança, de todo o conhecimento, de toda a percepção. E não equivale isto a dizer a cessação de toda a realidade? Está aí, bem se compreende, o problema dos problemas. É a questão do ser ou não ser de que cogitava Hamleto. Com a morte desaparece o indivíduo e com o indivíduo desaparece a consciência. É uma negação do particular que, em última análise, se resolve em negação do todo, porque para a consciência que termina, tudo fica reduzido a nada. A isto, poder-se-á, é certo, responder que, embora se extinga a consciência com o indivíduo, todavia não fica com isso diminuída a existência, porque o todo permanece sempre o mesmo, impenetrável em seus arcanos, inesgotável em sua fecundidade, revelando sempre novas energias e desdobrandorse sempre em novas modalidades, agindo incessantemente e incessantemente produzindo novas consciências e novas vidas. Sim. Nisto está uma verdade irrecusável. Mas o que temos de mais forte e de mais poderoso, em nós mesmos, é o sentimento de nossa própria individualidade. E se esta individualidade desaparece com a consciência, fogo-fátuo que se desfaz, luz que brilha um momento e logo se apaga na tempestade do cosmo, neste caso que valor tem para nós a existência? Que valor tem o todo para uma consciência que deve ter como certa a sua total extinção?
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