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Saudade: presença dos ausentes.
olavo bilac
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olavo bilac
"Pinta; mas vê de que maneira pintas... Antes busques as cores da tristeza, poupando o escrínio das alegres tintas; tristeza singular, estranha mágoa de que vejo coberta a natureza, porque a vejo com os olhos rasos dágua... "
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olavo bilac
"Quando uma virgem morre, uma estrela aparece, nova, no velho engaste azul do firmamento: e a alma da que morreu, de momento em momento, na luz do que nasceu palpita e resplandece. ó vós que, no silêncio e no recolhimento do campo, conversais a sós, quando anoitece, cuidado! O,que dizeis, como um rumor de prece, vai sussurrar no céu, levado pelo vento... Namorados, que andais com a boca transbordando de beijos, perturbando o campo sossegado e o casto coração das flores inflamando, piedade! Eias vêem tudo entre as moitas escuras... Piedade! esse inípudor ofende o olhar gelado das que viveram sós, das que morreram puras! "
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olavo bilac
" A natureza és tu, agora que és mulher, agora que pecaste! "
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olavo bilac
" Todas, formosas como tu, chegaram, partiram... e, ao partir, dentro em meu seio todo o veneno da paixão deixaram. Mas, ah, nenhuma teve o teu encanto, nem teve olhar como esse olhar, tão cheio de luz tão viva, que abrasasse tanto! "
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olavo bilac
"E é uma ressurreição! O corpo se levanta: nos olhos, já sem luz, a vida exsurge e canta! E esse destroço humano, esse pouco de pó contra a destruição se aferra à vida, e luta, e treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta a voz, que na solidão só ele escuta, só. "
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olavo bilac
" ó grande, ó bela, ó generosa Terra! O que nós queremos ó tugir de ti: a tua grandeza não nos basta, a tua beleza não nos contenta, a tua generosidade não nos sacia! O que nós queremos é voar, é quebrar estes grilhões, é trocar pela ventura problemática a escassa mas deliciosa felicidade que podemos gozar aqui em baixo. "
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olavo bilac
"A suprema consolação da velhice é a única maneira de combater o aniquilamento, é a ressurreição da própria vontade e da própria glória dos filhos. "
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olavo bilac
"A vida é um capricho do vento. "
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olavo bilac
"Quedaram, frio o sangue, as mulheres chorosas, sem cor, sem voz, de espanto e medo. E, de repente, caíram-lhes das mãos as ânforas piedosas de bálsamo odoroso e de óleo rescendente. Enfeitiçou-se o chão de um perfume dormente, e o arredor trescalou de essências capitosas, como se a terra toda abrisse o seio, e o ambiente se enchesse de jasmins, de nardos e de rosas. E Madalena, muda, ao pé da sepultura, tonta da exalação dos cheiros, em delírio, viu que uma forma, no ar, divinamente bela, vivo eflúvio, vapor fragrante, alva figura, aroma corporal, pairava... Como um lírio, num sorriso, Jesus fulgia diante dela. "
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olavo bilac
"Trabalhai, porque a vida é pequena, e não há para o tempo demoras. Não gasteis os minutos sem pena, não façais pouco caso das horas! "
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olavo bilac
"O medo é o pai da crença."
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olavo bilac
"O medo é o pai da crença. "
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olavo bilac
" Tu, golpeada e insultada, eu tremerei sepulto, e os meus ossos no chão, como as tuas raízes, se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto! "
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olavo bilac
" A mocidade é como a primavera. A alma cheia de flores resplandece, crê no bem, ama a vida, sonha e espera, e a desventura facilmente esquece. "
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olavo bilac
" Tens, às vezes, o fogo soberano do amor; encerras na cadência, acesa em requebros e encantos de impureza, todo o feitiço do pecado humano. Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza dos desertos, das matas e do oceano: bárbara poracé, banzo africano, e soluções de trova portuguesa. És samba e jongo, chiba e fado, cujos acordes são desejos e orfandades de selvagens, cativos e marujos, e em nostalgias e paixões consistes, lasciva dor, beijo de três saudades, flor amorosa de três raças tristes. "
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olavo bilac
"Nunca entrarei jamais o teu recinto: na sedução e no fulgor que exalas, ficas vedada, num radiante cinto de riquezas, de gozos e de galas. "
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olavo bilac
"Pátria, latejo em ti, no teu lenho, por onde circulo! E sou perfume, e sombra, e sol, e orvalho! E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde, e subo do teu cerne ao céu, de galho em galho! "
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olavo bilac
"Vivo, choro em teu pranto; e em teus dias felizes, no alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto! "
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olavo bilac
"Sofro... Vejo envasado em desespero e lama todo o antigo fulgor, que tive na alma boa; abandona-me a glória; a ambição me atraiçoa; que fazer, para ser como os felizes? Ama! Amei... Mas tive a cruz, os cravos, a coroa de espinhos, e o desdém que humilha, e o do que infama; calcinou-me a irrisão na destruidora chama; padeço! Que fazer, para ser bom? Perdoa! Perdoei... Mas outra vez, sobre o perdão e a prece, tive o opróbrio; e outra vez, sobre a piedade, a injúria; desvairo! Que fazer, para o consolo? Esquece! Mas lembro... Em sangue e fel, o coração me escorre:, ranjo os dentes, remordo os punhos, rujo em fúria... Odeio! Que fazer, para à vingança? Morre! "
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olavo bilac
"Delira. Mas, depois do delírio sublime, o remorso, imortal, nasce com o arrebol. E ele mede a extensão do seu monstruoso crime, e esconde a face à luz vingadora do sol. Busca assustado a paz, busca chorando o olvido... À volúpia infernal o coração vendeu, e o inferno lhe reclama o coração vendido, cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe deu. Quer rezar, quer voltar ao seu fervor primeiro, quer nas lajes, de rojo, abominando o mal, ser de novo Cristão, Fiel e Cavaleiro, mas não encontra paz na paz da catedral. "
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olavo bilac
"O amor, querida, não exclui o pejo... "
[Ver frase]
olavo bilac
" A Terra, esta boa mãe, tem felizmente, uma inconsciência, que a preserva do desgosto de sentir a nossa ingratidão. Desde o dia em que a bicharada humana, depois de um trabalho longo de fermentação, começou a viver sobre a crosta da Terra, o seu orgulho entrou a desprezar Aquela que lhe deu a vida. Nós colhemos os frutos que ela nos dá, gozamos a sua beleza perpetuamente renovada, vamos fruindo os prazeres que nos vêm da sua inesgotável generosidade mas sempre com um modo desagradecido, sempre com uma careta de fastio, sempre com um dar de ombros de desprezo. O nosso estômago, os nossos nervos, os nossos sentidos estão com ela, mas a nossa imaginação está fora dela, sonhando vidas que nos parecem mais agradáveis talvez pelo único motivo de serem inacessíveis. "
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olavo bilac
" Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre os primeiros clarões das estrelas, no ventre, sob os véus do mistério e da sombra orvalhada, trazes a palpitar, como um fruto do outono, a noite, alma nutriz da volúpia e do sono, perpetuação da vida e iniciação do nada... "
[Ver frase]
olavo bilac
" Este, que um deus cruel arremessou à vida, marcando-o com o sinal da sua maldição, este desabrochou como a erva má, nascida apenas para aos pés ser calcada no chão. De motejo em motejo arrasta a alma ferida... Sem constância no amor, dentro do coração sente, crespa, crescer a selva retorcida dos pensamentos maus, filhos da solidão... Longos dias sem sol! Noites de eterno luto! Alma cega, perdida à toa no caminho, roto casco de nau, desprezado no mar! E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto; e, homem, há de morrer como viveu: sozinho, sem ar, sem luz, sem Deus, sem fé, sem pão, sem lar! "
[Ver frase]
olavo bilac
" Já que te é grato o sofrimento alheio, vai! Não fique em minhalma nem um traço, nem um vestígio teu! Por todo o espaço se estenda o luto carregado e feio. Turvem-se os largos céus... No leito escasso dos rios a água seque... E eu tenha o seio como um deserto pavoroso, cheio de horrores, sem sinal de humano passo... Vão-se as aves e as flores juntamente contigo... Torre o sol a verde alfombra, a areia envolva a solidão inteira... E só fique em meu peito o Saara ardente sem um oásis, sem a esquiva sombra de uma isolada e trémula palmeira! "
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olavo bilac
" Nesse louco vagar, nessa marcha perdida, tu foste, como o sol, uma fonte de vida: cada passada tua era um caminho aberto, cada pouso mudado uma nova conquista! E enquanto ias sonhando o teu sonho egoísta, teu pé como o de um deus, fecundava o deserto! "
[Ver frase]
olavo bilac
" Sobre minhalma, como sobre um trono, senhor brutal, pesa o aborrecimento. Como tardas em vir, último outono, lançar-me as folhas últimas ao vento. Oh, dormir no silêncio e no abandono, só, sem um sonho, sem um pensamento! E no letargo do aniquilamento ter, ó pedra, a quietude do teu sono! Oh, deixar de sonhar o que não vejo! Ter o sangue gelado e a carne fria! E, de uma luz crepuscular velada, deixar a alma dormir sem um desejo, ampla, fúnebre, lúgubre, vazia como uma catedral abandonada!... "
[Ver frase]
olavo bilac
" Surdo, na universal indiferença, um dia, Beethoven, levantando um desvairado apelo, sentiu a terra e o mar num mudo pesadelo... E o seu mundo interior cantava e restrugia. Torvo o gesto, perdido o olhar, hirto o cabelo, viu, sobre a orquestração que no seu crânio havia, os astros em torpor na imensidade fria, o ar e os ventos sem voz, a natureza em gelo. Era o nada, a eversão do caos no cataclismo, a síncope do som no páramo profundo, o silêncio, a algidez, o vácuo, o horror no abismo... E Beethoven, no seu supremo desconforto, velho e pobre, caiu, como um deus moribundo, lançando a maldição sobre o universo morto! "
[Ver frase]
olavo bilac
"Plangei, sinos! A terra ao nosso amor não basta.. Cansados de ânsias vis e de ambições ferozes, ardemos numa louca aspiração mais casta, para transmigrações, para metempsicoses! Cantai, sinos! Daqui por onde o horror se arrasta, campas de rebeliões, bronzes de apoteoses, badalai, bimbalhai, tocai à esfera vasta, levai os nossos ais rolando em vossas vozes! Em repiques de febre, em dobres a finados, em rebates de angústia, ó carrilhões, dos cimos tangei! Torres da fé, vibrai os nossos brados! Dizei, sinos da terra, em clamores supremos, toda a nossa tortura aos astros de onde vimos, toda a nossa esperança aos astros aonde iremos... "
[Ver frase]
olavo bilac
"Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria, trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada, e enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada de gritos de triunfo e gritos de agonia. Prende a ideia fugaz; doma a rima bravia; Trabalha... E a obra, por fim, resplandece acabada; Mundo que as minhas mãos arrancaram do nada, filha do meu trabalho, ergue-te à luz do dia! Cheia da minha febre e da minha alma cheia, arranquei-te da vida ao ádito profundo, arranquei-te do amor à mina ampla e secreta! Posso agora morrer, porque vives! E o Poeta pensa que vai cair, exausto, ao pé de um mundo, e cai vaidade humana! ao pé de um grão de areia..."
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