Os antigos enxergaram no mentiroso o mal vil dos tarados morais. Depois de enumerar todas as misérias de um perdido, concluíam, quando cabia: E até mente. Entre dois ladrões crucificaram Jesus, porque não ousaram excruciá-lo entre dois burlões. O ladrão prostitui a própria boca, a sua palavra e a sua consciência. O ladrão ofende o próximo nos bens da fortuna. O mentiroso, não é no património, é na honra, na liberdade, na própria vida. Do ladrão nos livra a tranca, o apito, a guarda. Do mentiroso nada nos livra, porque o enredo, a invencionice, volatilizados no ar, depois de tramados são impalpáveis como os germes das grandes epidemias.
rui barbosa