Há uma forma vulgar de abulia que todos conhecemos e da qual padecemos, às vezes. Quem não foi, pelo menos uma vez, dominado pela perplexidade de espírito, nascida do quebrantamento de forças ou do aniquilamento resultante de uma prolongada inação, em que a vontade, carecendo de uma idéia dominante que a mova, vacilando entre motivos opostos que se equilibram, ou dominada por uma idéia abstrata, irrealizável, permanece irresoluta, sem saber o que fazer e sem determinar-se a fazer? Quando essa situação se converte de passageira em crônica constitui a abulia que se patenteia no exterior pela repugnância da vontade a executar atos livres. No abúlico há um princípio que demonstra não se haver extinguido totalmente a vontade; mas esse movimento atua debilmente e raras vezes alcança o seu termo. Não é um movimento desordenado confundível com os do atáxico; há num caso debilidade e em outro falta de coordenação, tanto que na abulia, afora os atos livres, os demais, os psicológicos, os instintivos, os produzidos pela sugestão, se realizam ordenamente. São muitos os sintomas intelectuais de abulia: a atenção se debilita tanto mais quanto mais novo ou estranho é o objeto sobre o qual é preciso fixá-la; o entendimento parece petrificar-se e torna-se incapaz de assimilar novas idéias; só tem agilidade para ressuscitar a recordação dos feitos passados; mas quando chega a adquirir uma idéia nova, carecendo do contrapeso de outras, cai da atonia na exaltação, na idéia fixa que o arrasta à impulsão violenta. Se na vida prática a abulia se manifesta no não fazer, na vida intelectual se caracteriza por não atentar. Por conseguinte, a causa da abulia, a meu ver, é a debilitação do sentido sintético, da faculdade de associar as representações.
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