Curvar-se espontaneamente à mortificação é uma forma de encontrar a alegria da consciência no próprio sofrimento. É meio também de autodomínio, mediante o qual se aumenta a capacidade de cada um na obra de mutualização dos recíprocos sacrifícios quotidianos, de cujos efeitos se origina a harmonia social, possibilitando a ventura de viver. A mortificação é glorioso voluntariado, uma forma de alegria, que não exclui nem condena as outras formas de alegria. Esse luminoso sentido de equilíbrio, que distingue a doutrina cristã de todas as filosofias e religiões, esse entrelaçamento entre as finalidades materiais e espirituais do Homem, essa linha de bom senso, tão natural, tão simples e pura e que, por isso mesmo, é a única a interpretar, com precisão lógica, os planos do Universo, nada disso poderia ser compreendido pela vaidade farisaica, pela presunção de uma sabedoria doutoral, fechada e impermeável. Não será utilizando-se desses espíritos avelhantados que Jesus constituirá um mundo novo. Por isso, volta-se para aquelas fisionomias sardónicas e diz: Ninguém deita remendo de pano novo em vestido velho, porque semelhante remendo rompe o vestido e faz maior ruptura. Não se deita vinho novo em odres velhos, porque se rompem os odres, entorna-se o vinho e os odres se estragam. Mas deita-se vinho novo em odres novos e, assim, ambos se conservam...
plinio salgado
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