Antenor Nascimento Filho: A vida que eu vivo não é minha, é do outro que eu sou sem querer; meu querer não é meu, é do outro que vive a vida que eu

A vida que eu vivo não é minha, é do outro que eu sou sem querer; meu querer não é meu, é do outro que vive a vida que eu não quero viver.

antenor nascimento filho

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"Os outros não são como eu desejo, não vivem a sua vida, vivem a minha... "
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"Vivência, convivência, sobrevivência, eis a questão. "
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"A áspera fuga dos caminhos vivos não perturba a humildade deste atalho que envelheceu tranquilo no trabalho sem a angústia de fins e de motivos. A agitação dos passos fugitivos teme a ternura do seu agasalho que se sustenta em troncos de carvalho, os lenhos que hão de ser definitivos. Orgulha-se das pegadas visíveis das aves que descobrem nos seus níveis as vastidões das mínimas reentrâncias. Entre as rotas reais e o vale humosole é apenas um palmo pedregoso de estrada sem cansaços, sem distâncias. "
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"O olho da loucura espia-me de um canto, fundo e brilhante, sem cílios, roda na órbita como o prequeté quando faz olho branco, e acompanha com fome (é um olho louco) minha sombra fina que se projeta no assoalho. Só existe esse olho que escuta. Saiu das trevas da masmorra para espiar fixo o raio de luar que estieou minha sombra no chão. A sombra de um homem nu que geme de frio e de fome do Divino. Lambe no assoalho a sombra indefesa e imóvel. É um olho só, fundo, sem cílios. E a sombra é de um homem que não quer morrer, do homem que eu não quero ser... Fujo com o raio de luar enroscado em mim, eu nu, eu puro. E a sombra fica esticada no chão. O olho louco... Os dois... Apenas uma sombra com um olho. "
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"A poesia me quer puro. "
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" A dor não descansa e eu velo escutando o silêncio... A estranha figura afastou as pesadas ortinas das trevas e me disse num falar solene e mudo, em gestos graves e lentos, com a sugestão de sua inexistência escura, que as flores murcharam nos campos e os pássaros não mais cantariam. Disse, e eu senti um horror de tormenta em sua voz, um crepitar de chamas em seu olhar.Com a sugestão de sua inexistência escura disse que os veios refegos e os caudais uivantes dos grandes rios secariam, suas águas, que os vales não mais reverdeceriam na singeleza obscura dos arbustos sem nome, que as grandes árvores secariam à mingua de seiva e de luz. Disse, e eu percebi os trismos convulsos do seu desespero. Com a sugestão de sua inexistência escura disse que os gelos eternos viriam devorar a paisagem cristalizar o ultimo broto, paralisar o último movimento, imobilizar os seres para refazer a vida desde o primeiro pecado! Disse, e eu ouvi um gemido quase inane de aflição, um suspiro submisso de aniquilamento. A dor não descansa e eu velo scutando o silêncio. "
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"A vida que os outros vivem e não gostam, eu sei disso, essa eu quero viver. "
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